Sobre homofobia e soltar pum em elevador
Flatulências em público podem ser consideradas pequenos delitos éticos. Porque incomodam as pessoas ao redor, causando-lhes mal estar olfativo.
Se Pedrão peida no elevador, é justo que as pessoas ao redor exprimam descontentamento. Pedrão deve concluir que é uma verdade moral que insultar os narizes alheios com os vapores de suas entranhas é errado. Não é errado no mesmo grau que é errado torturar e matar, mas é errado.
Imaginem que Dona Astrogilda, por sua vez, é uma idosa de 95 anos que sofreu um AVC e está acamada há meses. O AVC causou a perda do controle que ela tinha sobre as flatulências, então ela solta puns tão logo são produzidos por sua flora intestinal, mesmo que o quarto esteja cheio com todos os seus netos e bisnetos.
A pequena imoralidade de peidar pode ser atribuída à Astrogilda? Não. Porque ela não pode fazer diferente, e se não pode, então não deve. Não se pode esperar dever ético de uma ação sobre a qual ela não tem poder voluntário.
Esse pequeno exemplo malcheiroso é para ilustrar a tese de Kant de que "deve implica pode". É uma tese simples e poderosa.
Se um(a) homossexual não pode evitar ser homossexual, então não interessa o que diz a sua respeitável teologia: ele(a) não deve deixar de ser homossexual, porque ele(a) não pode - não consegue, não é capaz, é impraticável. Se deixar de fazer o que sua libido o(a) impele a fazer, sofrerá. Então incitá-lo(a) a deixar de fazer é errado, e mais errado que peidar em elevador.