Eli, resposta pessoal,nao precisa ser verdade, qual a resposta pra pergunta que nunca calou: Qual a origem do principio, o motor primeiro, o inicio do inicio, o "antes" do existente.. Ou até o Deus.. do universo?
Respostas pessoais sobre a natureza do universo não valem nada.
Obter conhecimento sobre a origem do Universo é um trabalho árduo que é ativamente executado por físicos teóricos e experimentais.
Não é algo que é feito por geneticistas como eu, muito menos por fanfarrões palpiteiros das igrejas e templos de plantão.
Mas se você quer insistir num palpite desinformado da minha parte, digo que me parece provável, dada a compreensão moderna de processos naturais históricos, que sempre se deve esperar um início simples para entidades complexas.
É por isso que eu digo que minha tese metafísica principal é que nucleossíntese precede hematopoiese.
Nucleossíntese foi o processo físico, posterior ao Big Bang, de surgimento dos primeiros núcleos atômicos de hidrogênio. Os físicos já têm bons modelos para explicar tudo o mais, a origem de galáxias, estrelas, planetas, e átomos mais pesados que o hidrogênio, tudo a partir de uma distribuição heterogênea desse simples elemento nascendo no espaço-tempo há mais de 13 bilhões de anos atrás.
Hematopoiese é o processo complexo de formação do nosso sangue, que é contínua ao longo de toda a nossa vida. Tomo-a como exemplo de processo complexo do qual dependemos e só pode ter vindo depois da origem dos átomos, galáxias, estrelas, sem esquecer bilhões de anos de evolução biológica neste planeta.
O que acredito é que tudo o que existe segue este padrão - nucleossínteses precedem hematopoieses.
Um Deus não pode ser a origem de tudo porque é definido como um ser dotado de mente. A mente é um processo da mesma categoria da hematopoiese - complexo, derivado de longas histórias que se passaram neste planeta (sobre isto leia "Opiniões, mentes e peixes" - http://bulevoador.haaan.com/2010/03/26/opinioes-mentes-e-peixes/ ).
A base do ser não pode ser um deus, não pode ter intenções nem consciência. A base do Ser, assim chamada por Parmênides, que filósofos chineses como Zhuang Zi chamavam de Tao há mais de 3 mil anos atrás, seria algo ontologicamente simples, uniforme, homogêneo. Seria para o universo o que é a água para um peixe.
Tudo o que falamos sobre este ser é impreciso, não faz nem sentido individualizá-lo com um substantivo no singular. Podemos chamar de "seres" e não fará a menor diferença. Podemos chamar de "aquilo", e penso que a única categoria ontológica de nossas pobres mentes que pode minimizar a imprecisão da compreensão sobre "aquilo" é a categoria de objeto inanimado.
"Aquilo" não responde a orações, nem cria nada, porque criar é um ato de uma mente consciente, e "aquilo" está mais longe de uma mente consciente do que a nucleossíntese está longe da hematopoiese.
Você quer prestar reverência "àquilo"? OK, faça... mas não espere resposta nem conexão maior do que a conexão causal e física que existe entre você e "aquilo".
Se o Alberto Caeiro de Fernando Pessoa podia prestar homenagem a um deus que não era um deus, e Zhuang Zi poderia apontar que o Tao é algo que "não tem forma nem faz nada", que está "na formiga, na telha quebrada, no excremento, na lama", você tem toda licença poética para prestar homenagem à coisa simples que permeia e deu origem ao Universo.
Mas eu duvido que a palavra origem faça algum sentido neste caso, porque origem pressupõe tempo, e, se o próprio tempo tem uma origem, nossa capacidade de abstração não nos ajuda mais a imaginar o que queremos dizer com "origem". Neste caso só nos resta abandonar tentativas de compreensão e confiar na funcionalidade de modelos matemáticos que descrevam e prevejam o funcionamento do mundo.
Não sou um poeta nem tenho grandes habilidades líricas para prestar homenagens ao "Tao", aos "seres", "àquilo". Não vejo utilidade em agradecer a uma coisa que não tem capacidade alguma de compreender meus anseios emocionais de expressar minha alegria de existir.
Certa vez fiquei bêbado e abracei uma árvore. Falei com a árvore sabendo que ela não é capaz de ouvir. Nesta carícia etílica não houve misticismo, nem "mistérios", apenas uma liberdade poética que torna a vida mais interessante.
E é esta a minha relação com esta(s) coisa(s) que creio ter(em) sido a origem de tudo o que existe: uma relação ébria, estética, dramática, cômica, lânguida, apoteótica, proparoxítona e sobretudo supérflua. Pergunte-me qualquer coisa.