E se os biólogos fossem criacionistas?
Vamos supor o seguinte: que toda a literatura científica foi queimada por uma ditadura extremista mundial. Os biólogos teriam como referência apenas boatos sobre pesquisas com animais, plantas e microorganismos. Os evolucionistas foram queimados na fogueira.
Depois de um século de nova pesquisa, a que conclusão os novos biólogos - todos no princípio defensores da tese do Design Inteligente - chegariam?
No momento inicial, a nova biologia suporia que a inteligência do Designer é perfeita, digamos, de 100%, pois a complexidade do corpo humano é incrível, e é admirável como cada molécula, cada tecido e cada órgão trabalham com harmonia.
Mas aí, não sem muito arranca-rabo, alguns grupos de pesquisa apontam que o corpo humano está vulnerável ao câncer por motivos totalmente aleatórios para os quais não há nenhuma defesa totalmente eficaz no genoma humano. Outros apontam que o Designer não nos deu muita superioridade para o combate natural do câncer em relação a outros animais.
Por esse motivo, a inteligência atribuída teoricamente ao Designer cai para 80%. Admite-se que sua capacidade criativa está propensa a erro, e há maculação da criação.
Outros biólogos descobrem um monte de órgãos vestigiais em diversos animais (dedinho da cobra) e plantas (nervuras principais em carpelos), genes desligados no genoma humano sem função nenhuma, e orquídeas enganando vespas, e diminuem a inteligência atribuída ao Designer para 60%. Afinal, além de permitir maculação da criação, ele permite que sua criação contenha excessos não muito favoráveis a si mesma.
Tempos depois, mais ousadia: descobre-se que existem fósseis parecidos com os seres vivos atuais, mas não tanto, e descobre-se a datação deles. Conclui-se que o Designer, além de não se decidir por uma criação acabada, faz ajustes todo o tempo, e os ajustes levam muito tempo para fazer grande diferença.
Em meio a muita pancadaria em congressos e periódicos, os novos biólogos decidem diminuir a inteligência do Designer para 40%.
Um fulaninho ousado escreve uma obra extensa sobre casos em que a criação diminuiu sua complexidade. Peixes cavernícolas e toupeiras perderam olhos, parasitas ficaram cada vez mais simples para executar basicamente reprodução e alimentação.
Para quê o Designer seria indeciso a ponto de optar por um design clean de repente? Por que uma cauda de pavão e um vírus ao mesmo tempo?
Propõe-se diminuir a inteligência do Designer para 20%. Com dissidência e desistência de trabalhar cientificamente, mas outros motivos fizeram essa concepção teórica ser forçosa e inevitável.
Os novos biólogos observam que muitos genes parecem ter tido ancestral comum. Um regulador de transcrição parece ser uma enzima que teve áreas inativadas pelas já conhecidas mutações (ex: Galactoquinase de Saccharomyces cerevisiae). No sistema sangüíneo ABO, tudo aponta que os indivíduos de sangue O nada mais são que mutantes para alelos de A e B. Pigmentos da retina apresentam ancestralidade entre si.
Por causa desses cuidados tão obtusos fica difícil não admitir, finalmente, que a inteligência do Designer é zero. É claro que os dissidentes que desistiram de trabalhar cientificamente nunca concordarão com essa conclusão dos novos biólogos.
Um Designer totalmente burro tem nome. Se chama Seleção Natural.