Quando é justificado aceitar consensos?
Ninguém dispõe de tempo, capacidade ou memória para saber de tudo. Então, frequentemente, precisamos confiar ou em pessoas que consideramos informadas sobre um assunto, ou em consensos, como substituição a ir atrás das evidências e fazer a investigação por nós mesmos. Este é um fato frequentemente ignorado por céticos que recomendam fazer investigação para descobrir a verdade sobre cada mínima coisa.
Não vou tratar da sabedoria de uma autoridade, mas do consenso. Quando se justifica usar consensos para dar peso a uma posição?
Faço uma distinção entre consenso genuíno, que pode e deve ser usado para justificar uma opinião, e consenso enviesado, que não pode nem deve. A confusão entre os dois tipos de consenso é terrível porque, quando se aceita o enviesado, dá-se força de autoridade a erros, perpetuando uma conclusão errônea que desencoraja a busca por outras conclusões; ou faz-se coisa pior.
Um consenso é formado pela convergência de opiniões. A diferença entre consenso genuíno e consenso enviesado está no processo pelo qual essa convergência acontece. No genuíno, as partes convergentes são investigadores independentes, o que significa que não têm interesse nem ganham recompensa por concordar com outras partes. No consenso enviesado, há conflito de interesses: o seu interesse em descobrir a verdade e o interesse das partes em expressar concordância entre si que dá a elas algum dividendo, algum ganho, mesmo sendo algo abstrato como o ganho de contatos políticos pelo pensamento de coalizão, mesmo sendo algo tão simples quanto agradar aos amigos.
O consenso genuíno é um bom indicador para uma verdade que você mesmo não tem tempo, capacidade ou vontade de pesquisar por si. É uma heurística boa para se informar. Mas é preciso deixar claro que não substitui formas mais diretas de ter acesso à verdade. Exemplos que preenchem esse tipo de consenso são os consensos de especialistas independentes investigando algum fenômeno natural, como o aquecimento global antropogênico. (Atenção: não significa que só por ser ciência o consenso será genuíno. Supor isso automaticamente é cientificismo.)
O consenso enviesado pode ser interesseiro: disseram isso porque foram pagos pelas petroleiras, porque querem votos, porque são dogmáticos e não querem aceitar uma crítica que mostra que o que acreditam é falso, porque estão no mesmo grupo de pesquisa e querem o prestígio acadêmico de estarem certos nessa questão. E também pode ser fruto de vieses compartilhados: decidiram assim porque compartilham um erro em comum, um viés cognitivo, um preconceito. É bom notar que as evidências de viés no consenso devem ser investigadas também, e confiar em consensos adicionais a respeito do viés contido em outros consensos é aumentar a probabilidade de cair em erro.
Os efeitos do consenso genuíno são bons: economia de tempo e energia para tomar decisões ou aprender sobre alguma coisa. Os efeitos do consenso enviesado podem ser devastadores: ele é a forma intelectual, e talvez a base psicológica, da atitude linchadora.