Carta aberta aos parlamentares
Caros parlamentares,
como cidadão brasileiro e estudante de Biologia pela Universidade de Brasília, gostaria de fazer alguns comentários sobre a quantidade generosa de dinheiro público que Vossas Excelências recebem, como salário e outros benefícios, sem levar em conta o quanto uma parte significativa de Vossas Excelências consegue ganhar por meios, digamos, menos publicáveis.
Não pude deixar de traçar comparações entre este fato e alguns fatos que observamos em outros animais. Não vou mencionar nenhum gado de valor estupendo, nem as interações ecológicas que Vossas Excelências realizam entre si que envolvem sua absolvição compulsória às escuras.
Eu gostaria de ver meus representantes no Poder Legislativo agindo como os Morcegos-Vampiro, por exemplo, que regurgitam sangue para doá-lo para os outros membros do grupo que não conseguiram se alimentar, evitando que morram de inanição. Na política deste país, não consigo ver o que acontece com casais de pássaros que contam com a ajuda de outros adultos para cuidar de seus filhotes.
Os parlamentares brasileiros seriam nobres se se comportassem como o macaco Cercopithecus aethiops, que grita para avisar seus companheiros sobre a presença de predadores, correndo ele mesmo o risco de ser atacado enquanto faz isso.
Mas infelizmente não consigo ver um comportamento tão belamente altruístico em Vossas Excelências.
Pelo contrário.
Parasitas são os seres que se alimentam do trabalho de outros seres, como o carrapato faz grudado no couro de uma vaca. Como não precisa trabalhar muito, o parasita pode evoluir de modo a poupar o máximo de energia para continuar se reproduzindo às custas de seu hospedeiro, se tornando uma criatura simplificada. O vírus, por exemplo, é um parasita extremamente simples, e posso considerá-lo a mais estúpida das criaturas.
Pergunto agora a qual desses seres vivos que citei os parlamentares mais se assemelham ao tratarem a contribuição pública do modo como a tratam.
Aborrecidamente,
Eli Vieira
Cercopithecus aethiops