BBC é controlada internamente por identitários: o caso das políticas LGBT com base em diretrizes de uma ONG
Ao mesmo tempo em que alega que é imparcial, a BBC escolhe uma única ONG defensora da ideologia queer como fonte de suas políticas internas
Stephen Nolan é um jornalista da Irlanda do Norte que toca um programa de rádio de jornalismo investigativo na BBC. O programa se orgulha de “torturar fontes, dentro do que nos é permitido” para obter informações relevantes para o público.
O programa voltou a sua atenção hoje para a ONG Stonewall, dedicada à causa LGBT, por achar estranho que a própria BBC, entre outras entidades britânicas que são financiadas por impostos, trate como fato afirmações de grupos de lobistas como este. A investigação durou meses.
Os radialistas são surpreendentemente francos a respeito de controvérsias recentes sobre falhas da emissora britânica em seguir seus próprios princípios de imparcialidade e neutralidade política. A BBC chegou a abrir empregos voltados apenas para minorias étnicas, por exemplo, quando esse tipo de política de cotas é favorecido apenas por uma opinião política.
A Stonewall é uma ONG grande que faz lobby nas questões de sexo, gênero, identificação pessoal e questões trans junto à BBC. De todas as organizações públicas que o programa investigativo contactou, a BBC foi a menos transparente de todas, se negando a fornecer informações a respeito de sua relação com a ONG. A BBC lançou campanhas inteiras para todos os seus funcionários baseadas diretamente em diretrizes desses ativistas. Em uma delas, recomendava que os funcionários LGBT usassem porta-vozes heterossexuais dentro da empresa, sob a alegação de que os héteros são mais ouvidos que outras pessoas. Isso tem base num documento antigo da Stonewall. Até os funcionários LGBT entrevistados acharam isso estranho. A BBC se justifica alegando que esses ativistas são “os especialistas na igualdade no ambiente de trabalho para pessoas LGBTQ+” [sic].
A ONG afirma que há uma “multiplicidade de gêneros”, destacada do sexo. E a ONG quer uma base legislativa para a proteção disso. Isso leva a conflito com feministas que pensam que a base legislativa deveria estar só no sexo, que é objetivo. Para a ONG, basta uma autodeclaração para aceitação de coisas como “fluidez de gênero”, que são controversas no campo dos fatos. Pelas descrições do programa, parece claro que a Stonewall foi tomada pela “teoria” “queer”, uma ideologia radical derivada do pós-modernismo, que prega o relativismo a respeito de fatos. Não é de se surpreender, portanto, que favoreçam o critério único da “autoidentificação” para aceitar que uma pessoa seja tratada como pertencente a um determinado “gênero”, enquanto a prática médica tem sido avaliar a presença de um real sofrimento por disforia — uma dissonância entre o sexo do corpo e o sexo da autopercepção — e uma avaliação do compromisso do indivíduo com essa autopercepção no longo prazo.
O programa diz que dentro da BBC não seria permitido “atacar” a ONG. A própria BBC já produziu material didático para crianças que diz que “além de masculino e feminino, há centenas de identidades de gênero, talvez mais”. Outro recurso didático em que a ideologia está acima dos fatos usado pela emissora internamente é o “genderbread man”. O nome é um trocadilho com “gingerbread man”, uma bolacha de gengibre em forma humana consumida especialmente no Natal. Como é de se esperar, os ativistas preferem chamar de “person” em vez de “man”. No infográfico abaixo, explico o que há de errado com esse recurso.
O identitarismo é uma ideologia perigosa porque, em sua pressão por tratamentos especiais, com frequência acompanhada de hostilidade contra identidades não escolhidas que rotula como “opressoras”, desestabiliza instituições, toma o controle delas como o fungo Cordyceps toma o sistema nervoso central de formigas, para seus próprios propósitos, traindo as razões de ser das instituições e práticas parasitadas.
Os tipos de pessoas que o identitarismo alega representar não são de fato representados por ele, pois não há processo de legitimação dessa representação, como o voto. Trata-se, portanto, também de um parasitismo de causas que nasceram justas e identidades de pessoas que só querem ter o mesmo tratamento das outras. Pergunto-me quando é que essa ideologia destrutiva e autoritária encontrará finalmente alguma resistência a seu avanço nos altos escalões da elite ungida, onde agora tem rédeas soltas. Não é só a legitimidade da BBC que está em jogo por causa disso.