A importância do pensamento para a continuidade da liberdade
Nós, que acreditamos em democracia e não estamos em nenhum extremo político, devemos combater a retórica nacionalista absurda de que a ditadura foi boa para o Brasil. Devemos combater a ideia de que sem a ditadura militar, teria havido uma ditadura comunista - ninguém sabe disso, e é muita pretensão querer ser vidente do curso da História. Nenhuma suposta ameaça é justificativa para eliminar direitos civis, perseguir a liberdade de manifestação argumentativa e pensamento, aprisionar por razões políticas e torturar pessoas.
Esse papo paranoico é velho e foi usado antes de 64 por Getúlio Vargas para implantar o "Estado novo", mas, ainda que fosse verdade, ameaças de autoritarismo são combatidas com mais liberdade e democracia, e não com outra forma de regime opressor. A ideia de que fogo só se combate com fogo é uma ideia pueril e uma ode disfarçada à violência.
É de suma importância que direita e esquerda se unam nisso. As trevas do autoritarismo estão sempre à espreita, e infelizmente são praticamente uma tendência natural, especialmente em povo com baixa qualidade de educação. Não pretendo fazer minha versão de papo paranoico, só pretendo lembrar que não é novo na História que eras de paz e liberdade sejam substituídas num piscar de olhos pelo lamentável espírito de manada que acompanha nossa espécie desde seu nascimento.
A razão desse comentário é ter visto o músico Amado Batista ter dito, sobre ter sido preso e torturado pela ditadura militar apenas por ter dado acesso a livros censurados para intelectuais, que ele mereceu a prisão e a tortura. Infelizmente, esse caso atesta que nem mesmo a experiência direta como vítima torna alguém imune a apoiar o autoritarismo. Síndrome de Estocolmo pode ser mais comum do que pensamos, e, afinal de contas, às vezes as classes sociais que mais morrem numa guerra são justamente as primeiras a apoiar o início do conflito.
Daí a importância do pensamento para a continuidade da (pouca?) liberdade que a gente tem.