21 de maio e a Esfinge de Morgan: por que previsões religiosas são um fracasso
Ninguém “desaparatou” nem foi “arrebatado”. O mundo não acabou, não vai acabar em outubro, muito menos em 21 de dezembro de 2012. Sabe por que? Porque o raciocínio mitológico e religioso é um fracasso absoluto e completo quando diz respeito a prever coisas independentes da arrogância imaginativa da mente humana. Estou falando tanto de coisas grandiosas quanto de coisas simples como… orquídeas.
Charles Darwin, num ofício que muitos taxariam como inútil, estudou em detalhes as orquídeas, flores do grupo das plantas monocotiledôneas que encantam pela beleza e variedade. Certa vez, em 1862, Darwin recebeu do horticulturista James Bateman um pacote contendo a orquídea Agraecum sesquipedale, uma espécie que só existe naturalmente em Madagascar. Já versado no assunto e já elaborando sua teoria de que as flores das orquídeas frequentemente têm formas, cores e cheiros que refletem a seleção natural provocada por insetos polinizadores, o naturalista notou que a flor exibia um longuíssimo tubo produtor de néctar, com até 35 centímetros.
“Céus, que inseto pode sugá-lo?”, perguntou Darwin numa carta a um amigo. Inseto? O atual recorde de maior inseto é da larva do apropriadamente chamado besouro-Golias (Goliathus goliatus), com 11 centímetros. Como Darwin poderia saber que aquela estrutura tubular longuíssima da orquídea era alvo da alimentação de um inseto, e não de algum outro animal, como um morcego com uma língua tão longa quanto o tubo do nectário? Darwin foi mais longe: num livro, disse que este tubo era o alvo da tromba (probóscide) de uma mariposa desconhecida, pelas características que esta poderia ter criado na flor através da seleção natural, e a flor também agindo como pressão seletiva nesta suposta mariposa, alongando sua probóscide. Este processo de mútua pressão seletiva é conhecido como coevolução e é a explicação para a miríade de formas, cores, cheiros e sabores (baunilha um deles) das orquídeas.